Por isso existe o Plano Nacional Paraíba do Sul, que apelidamos de PAN com objetivo principal de recuperar algumas espécies de peixes ameaçados! E você? Sabe o que é o Plano de Ação Nacional Paraíba do Sul?
Em função dessa enorme gama de impactos as quais a bacia está submetida, em maio de 2010 foi realizada uma oficina para a elaboração de um Plano de Ação Nacional para as Espécies Aquáticas Ameaçadas de Extinção da Bacia do Rio Paraíba do Sul, tendo como espécies-alvo cinco peixes , um quelônio endêmico e três espécies de crustáceos.
O processo de elaboração do Plano de Ação Nacional para conservação das espécies aquáticas ameaçadas de extinção do rio Paraíba do Sul - PAN Paraíba do Sul foi realizado em duas partes, uma preparatória, denominada Oficina de Parceiros, e a outra de elaboração das metas e ações que compõem o PAN. A primeira oficina foi realizada nos dias 5 e 6 de novembro de 2009, na estação da CESP, em Paraibuna, SP. Visou formar e consolidar uma rede de parceiros para a elaboração do plano e definir seus objetivos, tais como, reunir informações sobre as espécies-alvo, identificar as principais ameaças e outros parceiros potenciais, além de discutir uma agenda conjunta e interinstitucional de trabalho.
A oficina para elaboração do PAN Paraíba do Sul propriamente dito foi realizada entre os dias 24 e 27 de maio de 2010, em Pirassununga, SP, na sede do CEPTA - Centro Especializado do Instituto Chico Mendes da Conservação de Biodiversidade - ICMBIO, que tem por finalidade a execução de ações voltadas à conservação e preservação de peixes continentais.
O evento contou com a presença de 20 instituições, dentre estas o Projeto Piabanha, e 42 participantes. A elaboração do PAN baseou-se na metodologia da IUCN the International Union for Conservation of Nature), adaptada pelo ICMBIO para traçar um plano de conservação, buscando ações tangíveis e factíveis, e o envolvimento e o compromisso dos parceiros institucionais na execução do plano. A partir dos quatro principais temas relacionados com as principais ameaças que afetam as espécies, identificados na oficina de parceiros (segmentação de habitat, conflitos de uso, falta de sensibilização e comunicação e degradação ambiental), foram identificados os problemas e as respectivas metas e ações necessárias para solucioná-los na segunda oficina.
O PAN Paraíba do Sul tem como objetivo geral recuperar e manter as espécies aquáticas ameaçadas de extinção da bacia do rio Paraíba do Sul nos próximos 10 anos. As ações deste Plano de Ação, portanto, deverão ser concluídas em 10 anos a partir de sua publicação. O PAN deverá ser avaliado anualmente e revisado em cinco anos.
Foram estabelecidas 86 ações distribuídas em 13 metas - CHAMAMOS ATENÇÃO PARA A META IV!:
I - Geração de informações para subsidiar o planejamento hidrelétrico da bacia do rio Paraíba do Sul, visando a conservação da biota aquática, com ênfase nas espécies ameaçadas e endêmicas, num período de cinco anos, com 7 ações.
II - Estabelecimento de instrumentos de gestão voltados à recuperação da integridade da biota aquática, com ênfase nas espécies ameaçadas e/ou endêmicas da bacia do rio Paraíba do Sul, impactadas por barragens, em 10 anos, com 9 ações.
III - Aumento, nos próximos cinco anos, do conhecimento da biologia e composição das comunidades da biota aquática da bacia do rio Paraíba do Sul, com ênfase nas espécies ameaçadas e/ou endêmicas, para subsidiar políticas públicas de conservação dessas espécies, com 8 ações.
IV - Aumento dos estoques pesqueiros da bacia do rio Paraíba do Sul e incremento das populações de peixes e quelônios ameaçados, com 25% recuperado em até 10 anos, com 3 ações.
V - Manutenção da vazão mínima ecológica do rio Paraíba do Sul adequada à conservação da biota aquática, por 10 anos, com 7 ações.
VI - Recuperação de pelo menos 20% das Áreas de Preservação Permanente - APPs, da bacia do rio Paraíba do Sul, com ênfase nas áreas relevantes para conservação da biota aquática endêmica e/ou ameaçada de extinção, em cinco anos, com 4 ações.
VII - Estabelecimento de ordenamento pesqueiro para a bacia do rio Paraíba do Sul, com base nos princípios da gestão compartilhada, em cinco anos, com 2 ações.
VIII- Impedimento da introdução de espécies alóctones, exóticas ou híbridas em ambientes naturais da bacia do rio Paraíba do Sul, em 10 anos, com 7 ações.
IX - Sociedade e poder público cientes da importância da bacia do rio Paraíba do Sul na manutenção dos recursos naturais e da qualidade de vida das populações humanas, por meio de programas pilotos de educação ambiental implantados em pelo menos um município de cada trecho do rio (alto, médio e baixo), em cinco anos, com 13 ações.
X - Gestores públicos e policiais ambientais de 25% dos municípios da bacia do rio Paraíba do Sul, considerando as áreas relevantes para conservação da biota aquática ameaçada de extinção, capacitados e treinados na aplicação das leis ambientais, em cinco anos, com 3 ações.
XI - Integração das organizações governamentais, não governamentais e iniciativa privada visando a implementação do Plano de Ação Nacional para a Conservação das Espécies Aquáticas Ameaçadas de Extinção da bacia do Rio Paraíba do Sul, em 10 anos, com 8 ações.
XII - Implantação de sistemas de saneamento ambiental em 25% (vinte e cinco por cento) dos municípios localizados nas áreas relevantes para a conservação da biota aquática ameaçada de extinção, em 10 anos, com 4 ações.
XIII - Ordenamento do uso e ocupação do solo nas áreas relevantes para a conservação da biota aquática ameaçada de extinção da bacia do rio Paraíba do Sul, em 10 anos, com 11 ações.
E como o Projeto Piabanha vem conduzindo suas ações de repovoamento?
As espécies-foco do nosso trabalho são as cinco espécies de peixes contempladas no Plano de Ação Nacional Rio Paraíba do sul.
Munidos de uma Licença emitida pelo Ministério do Meio Ambiente (Figura 1), os exemplares são coletados no ambiente natural e transportados até o Projeto Piabanha Centro Socioambiental (Figuras 2 e 3).
Figura 1: Licença de coleta concedida pelo Ministério do Meio Ambiente ao Projeto Piabanha com fins de monitoramento da ictiofauna e coleta de peixes para a formação do Banco Ex-situ.
Figura 2 e 3: Tanques para armazenar reprodutores nativos, Laboratório de Reprodução Induzida e Sala de Monitoramento da Ictiofauna (fauna de peixe) ao fundo.
Os lotes são armazenados e separados por espécie, formando um banco genético de reprodutores selvagens. Todos os indivíduos capturados são marcados eletronicamente com chip (Figura 4) para leitura eletrônica implantados na musculatura (Figura 5), o que permite a formação de um banco de dados com a identificação dos lotes que também contém informações sobre os locais e datas de captura.
Figura 4: Kit contendo chip eletrônico, aplicador e identificado de código de barras.
Figura 5: Pesquisador do Projeto Piabanha aplicando um chip eletrônico na musculatura de um reprodutor de piabanha.
De cada peixe capturado é retirado uma pequena amostra da nadadeira para posterior extração de DNA (Hilsdorf et al., 1999) e a realização do sequenciamento genético dessas populações capturadas. Os procedimentos de avaliação genética das populações são realizados no Laboratório de Genética de Peixes e Aqüicultura da Universidade de Mogi das Cruzes, parceira do projeto Piabanha (Hilsdorf et. al., 2002; Barroso et. al., 2003; Barroso et. al., 2005).
Etapas utilizadas pelo Projeto Piabanha para que ocorra a reintrodução de espécies no ambiente natural (repovoamento)
1. Obtenção da Licença para atividades com finalidade científica emitida pelo Instituto Chico Mendes/Ministério de Meio Ambiente;
2. Coleta dos peixes ameaçados (peixes fundadores) em diversos pontos da Bacia Hidrográfica do Rio Paraíba do Sul;
3. Transporte dos peixes coletados até a Estação do Projeto Piabanha Centro Sócioambiental;
4. Retirada de um pequeno pedaço da nadadeira caudal para a formação do Banco de Tecido, e por sua vez, para o futuro sequenciamento genético. Obs: não causa problemas físicos no peixe doador;
5. Aplicação de um microchip na musculatura do peixe, a fim de que o peixe possa ser identificado no momento da escolha dos reprodutores visando o processo de reprodução induzida;
6. Escolha dos reprodutores para o processo de reprodução induzida; Nesse momento são selecionados, por exemplo, machos capturados em um ponto da Bacia Hidrográfica e fêmeas coletadas em outro ponto. Ainda são observados o grau de variabilidade genética entre os peixes escolhidos, a fim de aumentarmos a variabilidade genética dos alevinos (filhotes) produzidos;
7. Incubação dos ovos no laboratório;
8. Acompanhamento do crescimento dos alevinos nos tanques berçários (de terra) até chegarem ao tamanho de juvenis, ou seja, peixes com um tamanho médio de 15 cm;
9. Despesca dos juvenis para a soltura no rio. Após a despesca, todos os peixes são rigorosamente observados sobre os aspectos morfológicos e sanitários;
10. Antes da soltura selecionamos uma amostra de 50 indivíduos para a coleta de material genético, a fim de caracterizarmos geneticamente o lote de peixes que será repovoado;
11. Armazenamento das 50 amostras genéticas no Banco de Tecidos coordenado pelo Projeto Piabanha, pelo ICMBIO e pela Universidade de Mogi das Cruzes;
Através do Monitoramento da Ictiofauna, o qual acorre bimestralmente na região do Domínio das Ilhas Fluviais e nos rios que deságuam nessa região, monitoramos o desenvolvimento dos peixes liberados através de coletas padronizadas tendo como premissa, o rigor científico. Essa metodologia permite inferir se o peixe coletado é originário de repovoamento ou, se já possui incremento “genético” originário dos peixes repovoados. Esse incremento ocorre quando os peixes repovoados se tornam adultos e no momento da piracema, reproduzem em conjunto com as populações selvagens, o que inevitavelmente viabiliza o repasse genético através do DNA dos ovócitos e espermatozoides, incrementando a variabilidade genética das populações selvagens. Dados publicados na revista cientifica Neotropical Ichthyology, 7(3):395-402, 2009 (Figura 6) mostram a variabilidade genética em 5 nas populações selvagens de piabanha (Brycon insignis) capturadas em 5 diferentes pontos da Bacia Hidrográfica do Rio Paraíba do Sul. Esse estudo, o qual fomos parceiros, já vem sendo utilizado em nosso Programa de Conservação Genética. No futuro próximo, constataremos se os peixes liberados pelo Projeto Piabanha estão formando novas populações no ambiente natural, ou estão incrementando a variabilidade genética junto às populações nativas. Um trabalho com objetivos de CURTO, MÉDIO E LONGO prazo!
Figura 6: Artigo publicado na Revista Neotropical Ichthyology, 7(3):395-402, 2009 dissertando sobre a genética de 5 populações de piabanha.
Figura 7: Reprodutor de piabanha (Brycon insignis) do Projeto Piabanha.